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domingo, 1 de abril de 2007

Teatro

Filha de um escritor mal sucedido e de uma bailarina fracassada. Não podia dar em outra coisa. Uma atriz de péssima qualidade.
Atualmente se sustentava fantasiando-se de Minie em festas infantis. Logo ela, que sempre detestou crianças.
Seus pais ajudavam com os pequenos golpes que se acostumaram a dar. O preferido era o n° 8, como eles o chamavam. Apesar dos seus trinta e nove anos de sofrimento, sua mãe ainda era uma linda mulher. Fácil atrair algum incauto com promessas de paraíso e prazer. Na hora da consumação do ato, seu pai aparecia, furioso, arma na mão. Péssimos atores. Ainda piores que ela. Mas um homem, quando defrontado com a arma de um marido raivoso, não tem o mínimo senso crítico. Geralmente fica também sem as calças, a carteira e tudo que lhe atrase saltar pela janela.
Namorado? Ha! Nem pensar. A fantasia de Minie não é exatamente sensual. A não ser pra alguns tarados bêbados.
A faculdade de cinema foi trancada ainda no primeiro período. Oitocentos paus por mês. Meio difícil pra quem às vezes ficava sem almoço.
Semana passada uma amiga chamou pra uma agência. Quatrocentos reais por dia. Seis programas, e só. Uma hora cada. Não pôde. Pruridos morais. "Deixa de ser besta, é só fingir que está num palco". Mas - ela sabe! - é uma péssima atriz.
Talvez algum outro dia. Quando faltar também a janta e o café-da-manhã. Ou quando o golpe n° 8 der errado, e o pior acontecer...

2 comentários:

octavio roggiero neto disse...

um texto áspero, realista demais, atualíssimo, do jeitinho que gosto! retrata a decadência de uma sociedade sem freios para o abismo da falta de valores morais e éticos. um texto que parece nos dizer com voz suave de insuportável ironia: "calma, calma, que o pior ainda está por vir..."
té mais ler!

Adriádene disse...

Fantástico! Fiquei sentindo um gostinho de quero mais! Beijos!