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domingo, 25 de março de 2007

Manchete

Ela ainda não sabia, mas seria o último dia de sua vida.
Acordou logo cedo e não quis comer. Precisava desesperadamente perder mais quatro quilos. Foi pro trabalho com fome, de novo.
Ônibus lotado. E só quem já pegou o 264 às seis e quinze da manhã pode saber o verdadeiro significado da palavra "lotado". Odores insuportáveis. Bafo. Pinga. Cecê. Vômito. O motorista, estressado, acabou atropelando um motoboy. Todo mundo achou bem feito. Virou um herói, o motorista. O sangue no asfalto não queria dizer nada.
Atraso. Trinta e cinco minutos. Bronca.
Almoço rápido, vinte minutos num balcão, em pé. Sabe como é, muito serviço por fazer.
A tarde, como sempre, demorou dias pra passar. E ainda assim o serviço não rendeu. Bronca.
seis horas. Faculdade. Não a deixaram fazer a prova. Três meses de atraso no pagamento.
Foi pra casa mais cedo. Seu marido desempregado (ainda!) estava com a vizinha na cama. Clichê. Foi a cozinha e pegou uma faca.
Ela ainda não sabia, mas seria o último dia de sua vida.

6 comentários:

Anônimo disse...

me fez pensar em como tenho gasto o meu tempo a cada dia.

Rayanne disse...

De uma cadência cotidiana e arrasadora...
Assim, mecânico, como se o último dia na vida dela fosse apenas mais uma engrenagem.
Muito bom!

***Estrelas***

Luzzsh disse...

...e talvez nem tenha sentido dor, anestesiada que estava pelo peso cotidiano do viver só por viver....Bjs...

Anônimo disse...

Ainda bem (?)

Leandro Jardim disse...

ai, pesado!

hehe, ótimo comentário do Moa!

Adriádene disse...

Isso tá parecendo "carro de paulista" rsrsrsr Beijos!