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domingo, 25 de fevereiro de 2007

DESPEDIDA

Ela chegou.
Eu continuava sentado no mesmo sofá, na mesma posição. O ontem já havia se transformado em hoje, mas minha tristeza ainda não havia se transformado em nada diferente. Continuava sendo a mesma tristeza funda, calada.
O fim chegava, denso, espesso. Noite em pleno dia.
Ela passou por mim e pela primeira vez em anos não ouvi o seu bom-dia. Nunca algo me parecera tão imprescindível. Entrou no nosso quarto e fechou a porta. Através das paredes, pude ouvir os sons: guarda-roupa sendo aberto, mala caindo no chão, zíper se abrindo, roupas sendo jogadas sem nenhuma ordem dentro da mala, zíper se fechando. Um choro baixinho, arrependido, quase não querendo existir.
Outro zíper se abrindo, dessa vez num movimento curto... o barulho de seu jeans deslizando sobre a pele branca e macia. O som de sua calcinha de algodão (ela só usava calcinhas de algodão) pousando no carpete. A blusa de seda roçando-lhe os cabelos macios, negros e infinitos.
Chuveiro. Cinco minutos apenas. Calcinha de algodão, saia jeans e camiseta. Choro controlado. A porta se abrindo.
Eu, na mesma posição. Ela me olha fixamente, esperando algum sinal. Qualquer um. E nenhum vem. Cansaço. Cansaço.
Ela se vai. Pra sempre. Abro o zíper das minhas calças, me masturbo pensando nela e segurando em minha mão direita a arma. Esperma e sangue se misturam, colorindo a manhã de aurora.

4 comentários:

Anônimo disse...

Vida e morte
não são mais
que um golpe de sorte...

Anônimo disse...

Tenho a impressão de já te conhecer.

:)

José Rosa (ZeRo S/A) disse...

Trágico demais....

Marina disse...

Trágico mesmo!