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segunda-feira, 5 de março de 2007

Ai

O ai é engraçado...
Curto, cortante, rasgando o ar!
Quando vem sozinho, já se sabe: é dor curta, coisa pouca... ferrão de abelha, picada de agulha, topada de dedo em pedra pontuda. Quase sempre vem depois um palavrão.
Em dupla, dito de forma meio suspirada, denota dorzinhas inocentes: alguém que não apareceu, uma carta que não veio, uma saudadezinha-bicho-do-pé.
Em trio, significa irritação, impaciência. Sinal fechado, leite derramado, fila que não anda.
Às vezes são ditos repetidamente. Dedo preso na porta, choque em tomada, pele em coisa quente. Costuma parar logo que cessa a causa.
Mas o ai é um bichinho covarde. Ele some quando a dor é grande.
As dores maiores, as dores de verdade, aquelas que abalam vagarosamente o coração e a mente, essas são quase sempre silenciosas. Dores de amor, de morte, de doença crônica não têm ais!
Elas apenas dóem, doídas, caladas. E não acabam nunca.
A única companhia que conseguem são as lágrimas mudas e resignadas.

7 comentários:

diovvani mendonça disse...

Muito boas observações. Lembrei-me de um poeminha que escrevi.

CUIDADO COM EXPOSTAS PONTAS
Na ponta
de todo alfinete
equilibra-se
o
ai,
de uma dor
futura.

...

AbraçoDasMontanhas

Anônimo disse...

Muito bonito.

Juliana Marchioretto disse...

começou engraçado e ficou lindo.

:)
beijo

Marina disse...

Muito bom! Adorei! :)

Beijosss

Leandro Jardim disse...

é verdade...

aiai...

muito bem colocado!
abraços Jardineiros-os

Rayanne disse...

Meu ai silencioso acompanha os versos
Ondula como se assentisse, tendencioso,
Cobiçando a lágrima,
secreto, vil, ardiloso.

Bonita tua casa cor-de-esperança.

***Estrelas***

Marla de Queiroz disse...

Sua visita me deixou esse link maravilhoso.
Seu texto é delicioso de ler por ser fluido e não perder a profundidade...cheio de sabedorias...
Beijos imenso.